Lançado no dia 21 de julho de 1987, Appetite for Destruction vendeu 15 milhões de cópias só nos Estados Unidos - transformando-se em um dos álbuns de estréia de maior vendagem da história. O disco parecia tanto avançado quanto retrógrado: a crueza punk do som e a elaboração rebuscada das letras o transformavam em ponte entre o rock comercial dos anos 80 e a música alternativa da década seguinte. Mas Appetite também foi um dos últimos álbuns a ser masterizado com o vinil em mente, a ser editado com uma lâmina de barbear aplicada sobre fita de 5 centímetros, a ser mixado por cinco pessoas ajustando botões em uma mesa de mixagem não-automatizada. "Usamos instrumentos e amplificadores clássicos", explica o produtor e técnico de som do álbum, Mike Clink. "Nossa abordagem era parecida com a das coisas que se fazia nos anos 60 e no início dos 70", completa o técnico-assistente de mixagem Deyglio. "Quase pode ser considerado o último remanescente desse tipo de disco, de Layla (Derek and the Dominos, 1970) a Abbey Road (Beatles, 1969). Appetite for Destruction poderia ser visto como o último grande álbum de rock feito a mão."
O Guns se via como uma banda que retomava o espírito rebelde do rock que tinha desaparecido. "Eu, Axl e Slash, a gente sabia o que queria desde os 11 anos", explica Steven Adler. "E agarramos aquilo com unhas e dentes. Não existia ninguém nem nada que pudesse ficar no nosso caminho. Eu queria ser o porra do Roger Taylor, do Queen. A gente queria ser igual ao Aerosmith, ao Kiss, ao Led Zeppelin - bandas assim."
Em 1986 o Guns N' Roses ainda não tinha feito nenhum show em estádio nem gravado videoclipes, mas a banda já era capaz de criar um espetáculo e tanto: sem dinheiro nenhum, perdidos nas DROGAS e raivosos pelo lento progresso em direção ao álbum de estréia, eles soltaram todos os cachorros em uma casa alugada que foi propriedade do diretor de cinema Cecil B. DeMille.
"A banda tinha arrancado as privadas do chão e jogado os vasos pelas janelas. "O pessoal defecava nas pias. Os buracos no chão - de onde as privadas tinham sido arrancadas - estavam cheios de urina. Havia sanduíches pela metade, mofados, ainda nas embalagens. Eles simplesmente entravam na loucura das DROGAS e detonavam tudo", conta Zutaut. Os danos somaram US$ 22 mil; Stiefel e seu sócio Randy Phillips apresentaram a conta à gravadora Geffen e então deixaram de atender o Guns N' Roses.
Dentro da casa, um quarto permaneceu intocado. "E lá estava Axl, naquele quarto perfeito, imaculado. Essa era a dicotomia do Guns N' Roses", Zutaut recorda. Axl Rose estava menos interessado em DROGAS e álcool do que seus companheiros de banda - mas tinha seus próprios problemas. Foi diagnosticado como maníaco-depressivo e as pessoas que conviviam com o vocalista, às vezes, se perguntavam se Axl não sofria de desordem de personalidades múltiplas. "Ele parece um menino adorável e, de repente, vira o cachorro-demônio dos infernos", diz Vicky Hamilton, um dos primeiros empresários. "A cor dos olhos dele muda quando ele entra nessa pessoa diferente."
A primeira colaboração do grupo em composição foi "Welcome to the Jungle" - Slash estava no porão da casa de sua mãe quando tocou o acorde principal para Axl. "Peguei minha guitarra, fiquei na frente do sofá com um joelho apoiado no chão e falei: 'Dá uma olhada nisto', e aquilo ficou na cabeça dele", conta Slash. Posteriormente, McKagan escreveu a melodia acelerada e viajandona da faixa e Slash se lembra de quando Stradlin montou a ponte. "Axl era muito aberto", esclarece McKagan. "Ele não ficava: 'Sou o vocalista, tenho de escrever tudo'. Aquilo servia à música, não servia ao ego. Não tínhamos egos ainda." "Nightrain" combinou um refrão de piada batizado em homenagem a uma marca barata de vinho de que a banda gostava e um acorde tosco que Stradlin tinha introduzido. "Izzy tocava metade das notas", diz McKagan. "Era legal, era o estilo dele. Slash e eu tínhamos que descobrir o que ele tinha intenção de tocar."
A banda assinou com a Geffen em março de 1986, e depois de meses de inatividade, finalmente arranjou um empresário que seria capaz de suportar o GUNS N' ROSES - a figura rígida e inteligente do inglês Alan Niven, que também tinha trabalhado com o Great White. E, em uma sucessão rápida, logo encontrou um produtor também: Mike Clink, técnico de gravação que combinava habilidades técnicas extraordinárias com um nível de paciência fora do comum. Além disso, a banda tinha escrito uma última música: "Sweet Child o' Mine". Na casa de Cecil B. DeMille, Slash estava brincando com o refrão-assinatura da música como um "exercício pessoal meio idiota" e Stradlin começou a improvisar, acompanhando-o. Sem que nenhum dos guitarristas soubesse, Rose estava ouvindo de seu quarto no andar de cima, escrevendo letras. Slash conta: "Se Axl não estivesse lá escrevendo, é provável que a música jamais existisse".
A banda ensaiou com Clink durante semanas, daí entrou no estúdio Rumbo Recorders - de propriedade do Captain (famoso como metade da dupla pop-brega Captain and Tenille), em janeiro de 1987. Passaram duas semanas preparando as bases; Clink separava os melhores trechos com sua lâmina de barbear em punho. Clink passou o mês seguinte trabalhando 18 horas por dia, com Slash fazendo overdubs à tarde e à noite e Axl Rose gravando os vocais até o sol nascer. Slash passava horas com Clink, examinando e estruturando seus solos, até que ficassem tão pegajosos quanto as melodias vocais. Axl Rose - que, naquele ponto, praticamente só berrava no palco - mostrou alcance vocal incomum, adicionando um trecho de harmonia grave à abertura de "Paradise City" e um uivo de outro mundo, parecido com uma sirene de polícia, no começo de "Welcome to the Jungle". "Tínhamos que canalizar todas aquelas vozes para descobrir o que funcionava", afirma Clink. "Com a introdução de 'Welcome to the Jungle', não foi o caso de ele simplesmente abrir a boca e aquilo acontecer; experimentamos várias e várias versões para ter certeza de que era o uivo certo." O orçamento total do álbum ficou em cerca de US$370 mil - soma extravagante para um disco de estréia na época.
Cinco meses depois do lançamento, em dezembro de 1987, Appetite for Destruction tinha vendido 200 mil cópias, com um número mínimo de execuções no rádio. Executivos da Geffen disseram a Zutaut e Niven que o álbum tinha ido bem para a estréia de uma banda-bebê, mas que estava na hora de tirar o Guns da estrada e gravar a seqüência. Zutaut implorou ao fundador da empresa, David Geffen, que usasse sua influência para fazer a MTV exibir o videoclipe de "Welcome to the Jungle". O canal acabou veiculando o clipe uma vez, às 4 horas da manhã, em um domingo. O resultado foi o sonho molhado de qualquer relações-artísticas: as linhas telefônicas da MTV se encheram de pedidos - e, aparentemente, todo garoto raivoso dos Estados Unidos foi até o shopping center e comprou uma cópia de Appetite. Quando o vídeo de "Sweet Child o' Mine" saiu, cerca de seis meses depois, as fãs apareceram de todos os lados. "Eu me lembro de olhar para o meu monitor e pensar: 'Isto aqui é um saco, é comum demais'", diz o diretor Nigel Dick a respeito daquela filmagem. "E havia umas meninas da gravadora espiando por cima do meu ombro e uma disse: 'Isso aí é bom pra caralho'. Rapidamente, mudei minha opinião, porque, obviamente, elas achavam que era legal de verdade, e o resto, como se diz, é história."
Em seu verso final, a obscena "Rocket Queen", de repente, fica delicada: "No one needs the sorrow / No one needs the pain / I hate to see you / Walking out in the rain" [Ninguém precisa de arrependimento / Ninguém precisa de dor / Eu detesto te ver / Caminhando na chuva], Axl Rose uiva, com a voz subindo uma oitava, e Slash entra com um solo choroso que parece uma bênção. A idéia, Rose já disse, era dar ao álbum um final feliz depois de tanta obscuridade.
Slash sente-se mais à vontade com o legado de Appetite for Destruction: "Quando era moleque, existiam aqueles álbuns que ficavam com a gente para sempre, que representavam alguma coisa na nossa vida. Podia ser a música de fundo da sua infância ou da sua puberdade ou de sei lá o quê - Dark Side of the Moon [1973], ou Sticky Fingers [1971], ou Rocks [1976], do Aerosmith, ou LED ZEPPELIN IV [1971]. E nós fizemos um desses discos. Não posso desejar mais nada do que isso. Fico todo arrepiado. Isso é uma coisa que ninguém nunca vai tirar de mim."
APPETITE FOR DESTRUCTION FAIXA A FAIXA
Welcome To The Jungle (Música: Slash, Rose / Letra: Rose) – 4:32
Antes do GUNS N' ROSES, Axl passou uma noite em um pátio de escola do Queens: "Um negro me disse: 'Você está na selva! Você vai morrer!', que virou o tema da letra."
It's So Easy (Música: McKagan, Arkeen / Letra: McKagan, Arkeen) – 3:21
Duff McKagan e West Arkeen (amigo da banda) criaram esta faixa - uma das poucas canções do GUNS N' ROSES que o Velvet Revolver toca com regularidade.
Nightrain (Música: Stradlin, McKagan, Rose, Slash, Adler / Letra: McKagan, Rose) – 4:26
"Estávamos indo a pé para o [clube] Troubadour, bebendo uma garrafa de [vinho] Night Train", diz Steven Adler. "Estávamos naquele momento: 'Vira tudo, seu porra!'."
Out Ta Get Me (Música: Slash, Rose, Stradlin / Letra: Rose, Stradlin) – 4:20
Axl Rose colocou para fora sua paranóia no que Slash chamou de "a grande afirmação anarquista do Guns N' Roses".
Mr. Brownstone (Música: Stradlin, Slash, Adler / Letra: Stradlin) – 3:46
Ao se mudar de um apartamento do Guns, Axl Rose encontrou a letra no quarto de Stradlin - que travava sua luta contra a heroína.
Paradise City (Música: McKagan, Slash, Rose, Stradlin / Letra: Rose, McKagan) – 6:45
A única faixa que tem sintetizador em destaque. "Estávamos na Rumbo Recorders e Axl disse: 'Podemos experimentar uma coisa?'", conta o produtor Mike Clink.
My Michelle (Música: Rose, Stradlin / Letra: Rose) – 3:38
Rose e Michelle Young, amiga da banda, estavam indo a um show quando "Your Song", do Elton John, começou a tocar no rádio. Young disse que sempre quis ter uma música escrita para ela.
Think About You (Música: Stradlin / Letra: Stradlin) – 3:49
"É sobre Monique Lewis, com quem todos nós saímos", explica Tracii Guns. "Axl tem uma tatuagem dela no braço."
Sweet Child O' Mine (Música: Rose, Slash, Stradlin, Adler / Letra: Rose) – 5:54
A música surgiu por acidente, de uma seqüência de guitarra que Slash classifica como um "exercício pessoal meio idiota".
You're Crazy (Música: Slash, Stradlin, Rose / Letra: Rose, Stradlin) – 3:16
Também conhecida como "Fucking Crazy". Nesta música, Axl Rose adicionou uma palavra para homenagear uma menina que o atacara com uma garrafa de cerveja.
Anything Goes (Música: Stradlin, Rose, Weber / Letra: Stradlin, Rose) – 3:25
Da banda pré-Guns N' Roses de Axl, a Hollywood Rose. No começo, o Guns não queria gravar a faixa.
Rocket Queen (Música: Rose, Slash, Stradlin, Adler / Letra: Rose, Stradlin) – 6:14
Uma música sórdida de sexo que fica delicada, em parte porque Axl Rose queria fechar o álbum com uma mensagem de esperança.
Agradecimentos: Gnr oficial do orkut e o Igor Leijôto
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