O website “A.V. Club” fez um verdadeiro e profundo tratado sobre a rivalidade que existia entre Axl Rose e Kurt Cobain, dois dos maiores ícones do início dos anos 90. Abordando diversos aspectos da guerra particular – e que quase chegou às vias de fato – entre os dois ídolos, o texto traz uma incrível análise psicológica dos músicos, além de uma ótima caracterização do que estava acontecendo no mundo da música naquela época.
“Aprovados pelo Guns n’ Roses” – legenda sobre o NIRVANA na revista semanal britânica “New Musical Express”.
“O papel dele tem sido interpretado por anos. Desde o começo do Rock n’ Roll que há um Axl Rose. E é um saco. É totalmente entediante para mim. Isto é uma novidade para ele, obviamente porque está acontecendo pessoalmente com ele, e ele é uma pessoa tão egoísta que pensa que todo o mundo lhe deve alguma coisa” – Kurt Cobain falando sobre Axl Rose (retirado do livro “Come As You Are: The Story of Nirvana”, de Michael Azerrad.
“Você é tudo que eu poderia ter sido” – Axl Rose falando para Kurt Cobain após um show do Nirvana em outubro de 1991, e relatado por Courtney Love em “W.A.R.: A Biografia Não-Autorizada de Willian Axl Rose”, de Mick Wall.
A parte mais complicada de se escrever sobre a história é colocar estilos, modas e movimentos sociais numa perspectiva adequada. Nem todo mundo passou os anos 60 fazendo bebês na lama em Woodstock, ou os anos 70 cheirando com Bianca Jagger no “Studio 54”. Nós nos apoiamos nestas coisas, porque elas possuem significados facilmente reconhecíveis de suas respectivas eras, mas muita coisa é ignorada quando você toma o atalho das jaquetas Nehru e músicas dos Bee Gees. O espectro das experiências em qualquer era é simplesmente amplo demais; me faz imaginar se a chamada “monocultura” realmente existiu, no qual “todos concordavam” com o que era bom nas rádios e nas três emissoras de TV. Talvez apenas tenhamos melhorado em reconhecer que mesmo as coisas realmente populares são irrelevantes para significativas porções da população. Uma banda tão abrangente como eram os BEATLES nos anos 60 provavelmente não significava muito para um adolescente negro que vivia em Detroit, ou para um motorista de caminhão da zona rural do Texas, ou para os milhões de decentes conservadores norte-americanos médios que trabalhavam duro e que esperavam impacientemente que aqueles cabeludos desafinados terminassem sua apresentação no Ed Sullivan, para que os mágicos e malabaristas pudessem entrar.
Há uma anedota muitas vezes contada sobre como o “Nevermind” foi lançado ao topo das paradas da “Billboard” nos últimos dias de 1991, porque os garotos trocaram o “Dangerous” de Michael Jackson pelo álbum do NIRVANA, que era o que eles realmente queriam no natal. É uma estória rica em significado metafórico, mostrando a recém iniciada banda de Punk Rock contra o gigante superstar do Pop dos anos 80, terminando com os caras novos roubando a tocha cultural à força. Na versão cinematográfica, você veria adolescentes de todos os lugares trocando suas blusas brilhantes e jeans de pedra lavada por camisas de flanela e acessórios “Doc Martens”, e os escutaria reclamando sobre como os pais, a escola, o sistema e a mídia diz à nova geração com o que se importarem, e como isto é uma merda. É como se todos nós tivéssemos decidido nos tornar Christian Slater no filme “Pump Up The Volume”, e isto começou com o NIRVANA destronando o rei do Pop.
Na realidade, “Dangerous” acabou se tornando indiscutivelmente mais popular que o “Nevermind”, vendendo mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo e gerando nove singles ao longo de dois anos. A sexta canção de “Dangerous” a ir para as rádios, “Heal The World”, provavelmente seria mais reconhecida pelos fãs casuais de música do que qualquer canção do NIRVANA, possivelmente com a exceção de “Smells Like Teen Spirit”. “Dangerous” só parece um fracasso se comparado aos três mega-sucessos – “Off The Wall”, “Thriller” e “Bad” – que Jackson lançou antes dele. Mas ainda havia muitas pessoas que amavam “Dangerous”; ele pode ter perdido a batalha para o “Nevermind” aos olhos dos historiadores do Rock, mas Michael Jackson se deu bem na guerra.
“Nevermind” já havia sido mitificado quando Kurt Cobain cometeu suicídio em 1994; depois, pareceu que o disco existiu apenas como o ponto histórico que marcou o maior triunfo de Cobain e sua sombria introdução ao lado negro da inescapável fama e adulação. É difícil ouvir o “Nevermind” hoje em dia sem sentir o peso da história ou sem escutar o barulho do trovão do pressentimento. Mas a entrada do “Nevermind” no panteão dos “Importantes Álbuns de Rock” teve um certo atraso. Quando foi lançado, o disco só recebeu três estrelas e um review suave da “Rolling Stone”. De acordo com a “Spin”, o NIRVANA era bom, mas não chegava nem perto do Teenage Fanclub, cujo álbum “Bandwagonesque” foi nomeado o disco do ano.
(“Nevermind” liderou o rank da “Village Voice’s Pazz & Jop Critics Poll”, ficando na frente do Public Enemy, R.E.M., U2 e P.M. Dawn. “Smells Like Teen Spirit” também liderou a lista de singles, ficando 19 posições acima de “Pop Goes The Weasel” do 3rd Bass que, assim como o NIRVANA, levava a sério o desafio contra os “falsos artistas”.)
Assim como milhões de garotos, eu comprei uma cópia do “Nevermind” no fim de 1991, mas não me apressei em comprá-lo assim que escutei “Smells Like Teen Spirit”. Entretanto eu enchi o saco de minha mãe para que ela me levasse ao shopping para eu comprar dois álbuns que haviam saído uma semana antes do “Nevermind”. Eu havia esperado três anos por estes discos – toda a minha vida como consumidor de música. Por meses engoli o hype prometendo que a música destes álbuns poderia ser a melhor coisa a castigar meus tímpanos. Logicamente, tinha que possuir estes discos assim que estivessem disponíveis.
Você sabe onde está? Você está na selva com os “Use Your Illusion I” e “Use Your Illusion II” do Guns n’ Roses, baby! E até o final de 1991, algo que uma vez foi vital para a banda mais perigosa do planeta ia morreeeeeer!
O ano de 1991 pode ser lembrado como o ano do “Nevermind”, mas nenhuma banda era tão grande na época quanto o Guns n’ “Fucking” Roses, e nenhum rockstar tinha mais poder do que Axl Rose, o homem que fez da bandana e dos micro-shorts de ciclista algo cool de usar em público somente através da força de sua personalidade. O debut do Guns ‘ Roses, “Appetite for Destruction”, está entre os álbuns de Rock mais vendidos de todos os tempos e foi a trilha sonora de incontáveis adolescentes em ter o fim dos anos 80 e começo dos anos 90. Garotos de toda a parte estavam trepando, ficando bêbados e sendo espancados pela primeira vez, ao som de “Welcome to The Jungle” e “Paradise City”. Em 1991, Axl era tão poderoso que conseguiu coagir sua gravadora “Geffen Records”, a lançar dois maniacamente ambiciosos álbuns duplos no mesmo dia – 17 de setembro de 1991 – ao invés de separados por um ou dois anos, que era o que a gravadora queria fazer, porque parecia fazer mais sentido. O lançamento duplo dos “Use Your Illusion” era um ato tão descarado em sua arrogância, e ainda assim estranhamente admirável por sua dificuldade artística, que ninguém havia sido tão louco de tentar isso anteriormente e nem copiar nos 20 anos posteriores (sim, houve o pouco admirado projeto de Bruce Springsteen “Human Touch/Lucky Town” no ano seguinte, e o lançamento duplo de Sweat/Suit de Nelly em 2004, mas nenhum destes eram álbuns duplos). Podemos debater sobre a grandiosidade e importância do “Nevermind” – prefiro que não debatemos, mas vá em frente se quiser – mas não há argumentos contra a saga “Use Your Illusion” ser um evento único e histórico desde o nascimento do Rock; em termos de excessos, o fato fincou a bandeira do fim do mundo.
Baladas grandiosas baseadas no piano, épicos prog-Punks doentios, Blues queixosos cheios de DST’s, canções “piada” sobre putas mortas em valas, folks largados denunciando excessos anônimos e não tão anônimos, uma surpreendente e mordaz canção anti-guerra, ataques furiosos (e difamatórios) a jornalistas, participação especiais do cara do Blind Melon – “Use Your Illusion” tinha de tudo. Tudo que a “Geffen” podia fazer era esperar que Axl não decidisse carregar ainda mais paranóia sufocante e balbucios psicóticos em novas canções, adiando ainda mais o lançamento destes já obesos mamutes gêmeos à vida selvagem.
O primeiro gosto que o mundo teve de “Use Your Illusion” foi “You Could Be Mine”, lançado como single em junho de 1991, junto com o filme “O Exterminador do Futuro II: O Dia do Julgamento”, que por acaso era a outra obra de entretenimento na qual eu estava obcecado naquele ano. O Guns n’ Roses ainda estava a meses de lançar os álbuns que “You Could Be Mine” deveria divulgar – a canção é “Use Your Illusion II”, o que era bem confuso se você não soubesse sobre o “Use Your Illusion I” – mas o vídeo com Arnold Schwarzenegger foi bem sucedido em manter a banda onipresente na MTV naquele verão, como se ela estivesse em turnê pelo país. Não que o Guns n’ Roses precisasse de qualquer ajuda para chamar a atenção; durante um show em St. Louis, em julho, Rose saiu do palco, um reação ao que ele julgou ser um “segurança idiota”, durante a performance de “Rocket Queen”, a 15ª música da noite. O público respondeu destruindo o lugar, causando um prejuízo de US$ 200 mil; Rose mais tarde foi preso acusado de iniciar tumulto (ele se vingou, escrevendo “foda-se St. Louis”, nos créditos de ambos “Use Your Illusion”).
O tumulto sugeriu que a imagem do Guns n’ Roses ainda era rude o suficiente para convencer os fãs que socar uns aos outros na cara era uma reação razoável ao fato da banda só ter tocado por 90 e poucos minutos. Mas “Use Your Illusion” era o trabalho de uma banda indo além de seu início humilde, como patifes da rua que negociavam heroína; em breve o mundo descobriria que “You Could Be Mine” – uma canção magra, sórdida e com o balanço de uma cascavel, no clima do “Appetite” – havia criado uma porção de expectativas Hard Rock que os álbuns, independentes de seus outros méritos, não conseguiria atingir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário