FONTE: Whiplash!
“Como vocês sabem, Gilby foi despedido pelo menos três vezes pela banda no último mês e foi re-contratado pelo menos duas vezes,” escreveu Light no dia 14 de Abril em uma carta para a então advogada da banda, Laurie Soriano. Em junho, quando o disco solo de Gilby, ‘Pawnshop Guitars’ foi lançado, a posição dele ficou clara: ele estava oficialmente fora da folha de pagamento do GN’R, apesar do fato de Axl – junto com Slash e Duff – fazer uma aparição no disco de Gilby como convidado. Quando os royalties de ‘Spaghetti Incident?’ pararam de chegar periodicamente, Gilby instruiu a Light que processasse a banda. Mais uma vez, Axl lutou contra a ação inicialmente antes de eventualmente chegar a um acordo fora do tribunal com um pagamento não-revelado feito para o guitarrista;
Assistindo a tais acontecimentos de longe, Slash temia pelo pior. “Logo que eu voltei pra casa, eu montei esse estudiozinho invocado e me divertia. Eu não tinha nada em minha mente sobre sair da banda, era a banda que não estava funcionando. Matt ainda estava lá, mas Gilby tinha sido demitido, e Axl estava… por aí em algum canto.”
Quanto ao paradeiro de Axl, quando ele não estava consultando advogados a respeito à última ação em que ele tinha sido enrolado, ele estava obcecado com isso também. Ferido pela maciça rejeição do grunge aos preceitos que ele tinha como muito queridos – zoado por seus vídeos ‘conceituais’, ridicularizado por lançar dois discos duplos simultaneamente, desprezado por elementos de homofobia, racismo e machismo que poluíam suas letras, ainda que atribuídos artisticamente – ele foi esperto o bastante para perceber o quando fora de época o Guns N’ Roses repentinamente pareceu estar diante da força da mídia. Mais preocupado do que nunca com os danos feitos a sua imagem pelos processos de Erin e Stephanie, sem contar suas próprias arengas públicas com Steven, Izzy, Gilby e seu ex-empresário Alan Niven, pela primeira vez desde que ele tinha chegado a Los Angeles de Lafayette, Axl se viu perdido, puto com todo mundo, ainda que inseguro sobre como lidar com isso. Além de despedir Gilby, ele mandou embargar uma biografia da banda na qual Del James tinha estado trabalhando, ‘Shattered Illusion’, que deveria ter sido publicada pela [editora] Bantam/Doubleday em junho de 1995, e ele se retirou pra dentro do mesmo círculo de baba-ovos e assistentes pagos que tinham dado assistência a ele na turnê – James, seus irmãos Stuart e Amy, sua governanta Beta, o guarda-costas Earl, e o corpo de vozes de apoio, e Suzzy London e Sharon Maynard – fazendo soca em sua mansão em Malibu enquanto ele bolava sua próxima jogada. “A raiva de Axl quadruplicou da pessoa que eu costumava sair,” lembra Michelle Young, que se encontrou com ele por volta dessa época.
De acordo com Slash, foi ao que Axl começou a pensar em fazer seu próprio disco solo. Recém-obcecado com o som eletrônico do Nine Inch Nails – ele disse a amigos que ele adoraria ouvir o Nine Inch Nails fazer um cover de ‘Estranged’ – ele planejava escrever e gravar com um ‘time dos sonhos’ composto do líder do NIN, Trent Reznor, o guitarrista do Jane’s Addiction, Dave Navarro e o baterista do Nirvana, Dave Grohl. “Daí ele mudou de idéia,” diz Slash, ‘ e pensou, por que fazer um disco solo se ele poderia fazê-lo com o Guns N’ Roses… ’
Enquanto isso, a obsessão de Axl por música eletrônica continuava a crescer. O baterista do Metallica, Lars Ulrich se lembra dele elogiar o Nine Inch Nails antes de outros o fazerem. “Ele ficava dizendo, ‘Essa é a coisa mais legal que eu já ouvi’. E nós todos ficávamos lá dizendo, ‘do que caralho você tá falando? ’ Ele botou o Nine Inch Nails para abrir pro Guns N’ Roses na Europa e eu me lembro de ouvir sobre como eles foram vaiados até saírem do palco. Mas ele estava lá conosco quanto estávamos ouvindo Judas Priest.”
Slash, que não compartilhava das novas pretensões musicais de Axl, ocupava seu tempo “fazendo uns cem shows solo, apenas bares, e coisas com o Snakepit. Coisas com as quais eu jamais fiz um centavo. Quando eu voltei, eu pensei, ‘Perdi meu emprego diurno’. Eu estava frustrado, porque não tinha nada rolando. Mas eu fiquei na minha, e daí finalmente me desiludi com a coisa toda. E foi daí que comecei a pensar em fazer meu próprio lance de novo.”
Ele não era o único. Quando Slash foi convidado por Axl para juntar-se a ele e ao resto da banda no Complex Studios de Los Angeles em Agosto de 1994 para a gravação de ‘Sympathy for the Devil’ dos Rolling Stones, que deveria fazer parte da trilha sonora do então vindouro filme com Tom Cruise e Brad Pitt, ‘Entrevista com o Vampiro’, ele ficou chocado ao descobrir que Axl tinha mais uma vez agido por conta própria, dessa vez contratando um substituto para Gilby – Paul Huge, seu amigo das antigas de Lafayette.
Considerando que nenhum deles tinha sido consultado sobre a repentina contratação de Huge, nem Slash nem Duff se deram bem com o novo guitarrista. Como um amigo em comum lembraria depois, Huge era um ‘cara bom o suficiente’, mas como ele explica, ‘eles são o Guns N’ Roses, porra. ’ Huge simplesmente ‘não era tão bom’ e não tinha ‘pegada’. Ou como Slash descreveu depois, sem maneirar: ‘A meu ver, Paul é completamente inútil. Eu odeio aquele cara. Sinto muito, eu tenho certeza que ele é um cara muito legal, mas em um contexto rock n’ roll ele é patético. Quanto ao relacionamento dele com Axl, eles são garotos de Indiana, eu posso entender que ele se sinta confortável, mas eu me recuso a tocar com Paul de novo. ’
Apesar de nem Axl ter percebido isso, a antipatia para cima de Huge se tornaria o fio pelo qual todo o novelo da banda foi puxado, com Slash pondo Axl na posição onde ele mais ou menos tinha que escolher entre seu parceiro musical original e possivelmente mais importante, ou seu antigo colega de escola. Sentindo-se acuado, Axl fez o que ele sempre faz nessas situações e chutou o balde. Ele escolheu seu antigo colega de colégio.
Falando sobre o assunto quase oito anos depois, quando Huge também já tinha saído da banda, as lembranças de Axl sobre porque ele escolheu o guitarrista diferia das dos seus colegas de banda. “Na época,” ele insistiu, “Paul era uma das melhores pessoas que conhecíamos e que estava disponível e era capaz de complementar o estilo de Slash. Você poderia trazer um guitarrista melhor do que Paul. Você poderia trazer um monstro. Eu tentei colocar Zakk Wylde com Slash e não funcionou… Paul só estava interessado em complementar Slash, fazer a base pra um riff ou algo. Isso acentuaria ou encorajaria os solos de Slash.”
Slash afirma agora, entretanto, que ele decidiu sair da banda no dia que viu Huge no estúdio, dizendo que não conseguiu nem dormir naquela noite. “Eu estava suicida. Se eu tivesse uma arma comigo naquela época, eu provavelmente teria me matado. Se eu tivesse 15 gramas de heroína comigo, eu provavelmente teria morrido. Era pesado. Era uma lacuna na qual eu nunca tinha estado. De algum modo eu consegui voltar a dormir. Daí, quando eu acordei naquela manhã, eu tomei uma decisão. “No que então, eu senti o peso do mundo sair das minhas costas.”
Não era só Huge, ele diz agora; era o mal-estar geral que Axl tinha gerado na banda insistindo que eles tentassem uma direção mais contemporânea, pós-grunge, mais centrada no eletrônico. Nesse período, Axl tinha encomendado que uma estrutura enorme fosse construída no estúdio, repleta de mesas de sinuca, máquinas de fliperama e uma parede de equipamento novo. Além da presença de Huge nessas sessões, o principal problema, diz Slash, era que Axl estava agindo abertamente como um líder auto-proclamado. “Parecia uma ditadura. Nós não passávamos muito tempo colaborando um com o outro. Ele sentava numa cadeira, assistindo. Tinha um riff aqui e um riff ali. Mas eu não sabia no que ia dar.”
Depois de vários meses, Slash decidiu que já bastava. “Há um certo lado pessoal nisso também,” ele me disse. “Eu não sei qual é a do Axl. Talvez eu nunca tenha sabido. Quero dizer, Axl chegou com Izzy, eu vim cm Steven, e todos nos conectamos com Duff.” Com Axl agora encarregado sozinho, “eu percebi que estava sozinho, e isso significava que Axl tinha que chegar a um acordo com… não com nossa animosidade, mas termos uma opinião diferente sobre tudo. E você sabe, Axl trabalha tão duro quanto todo mundo, mas só no que ele quer trabalhar, e eu… eu simplesmente perdi interesse.”
Havia também o que ele chama de ‘amargura ao ponto da falta de gerenciamento’. No fim das contas, ‘tudo gira em torno disso: se eu não tivesse largado a banda, eu teria morrido, perdido sem nada pra fazer, nenhuma relação artística mútua, nada. O que eu digo é, eu tentei ficar, mas era como uma grande porta giratória, desde equipamento de alta tecnologia, guitarristas, todo tipo de merda rolando…eu só estava esperando a poeira abaixar. Eventualmente, eu pensei, nós nunca conseguiremos colocar isso na direção certa.”
Furioso com a decisão de Slash jogar a toalha, primeiro Axl tentou abafar o caso. Mas quando, em outubro de 1996, Slash fez uma entrevista online onde ele admitia que ‘agora, Axl e eu estamos discutindo o futuro de nossa relação’, Axl apressou-se em dar sua versão da história, primeiro mandando um fax para a MTV no dia 30 de outubro no qual ele sugeria que era decisão dele que Slash deveria sair da banda, o que ele tinha concluído desde 1995. Ele não conseguia mais trabalhar com ele, disse Axl, porque o guitarrista tinha perdido seu ‘ímpeto de cair pra dentro’.
“Axl tinha uma visão de que o GN’R deveria mudar e Slash tinha uma postura de que o Guns N’ Roses era a porra do Guns N’ Roses e isso é quem eles eram,” lembra Tom Zutaut. “Eu não acho que eles conseguiriam resolver seu problema de comunicação. Não foi anunciado publicamente a princípio porque ninguém queria dizer que a banda tinha se separado.”
Para Axl, entretanto, a decisão de Slash teve menos a ver com lealdade para comum lado ou outro, e muito mais com sua teimosia. Já discutindo quanto ao direcionamento musical que o próximo disco deveria ter, e depois rejeitando Huge como substituto de Gilby, Slash tinha questionado não somente a escolha de Axl, mas indiretamente sua autoridade. Tal qual muitos outros tinham descoberto antes, colocar Axl em uma posição onde ele estava sendo exigido a demover-se de uma de suas decisões unilaterais só poderia dar mesmo em uma coisa.
Falando sobre a dissolução para o site offcial do GN’R em 2002, Axl foi ainda mais direto ao assunto. “Originalmente eu queria fazer uma gravação mais ao estilo de Appetite,” ele explicou. “Então eu optei pelo que eu achei que faria ou deveria ter feito a banda, e especialmente Slash muito felizes. Mas me parecia que toda vez que nos chegávamos perto de algo que funcionava, não era por opinião que Slash dizia ‘Hey, isso não rola’, mas era limado justamente por funcionar. Em outras palavras, ‘Hey, peraí. Isso pode de fato dar certo, não podemos fazer isso’.”
Uma afirmação estranha de se fazer, já que sucesso não era algo do qual Slash tinha sabidamente se retraído anteriormente. Mas tal como Axl emendou: “As pessoas gostam de me chamar de paranóico. Isso não tem nada a ver com paranóia; tem a ver com realidade… Slash escolheu não estar aqui por causa de questões ligadas a controle. Agora as pessoas podem dizer ‘Bem, Axl, você está atrás de controle sobre a banda também’. Vocês são muito engraçados. Está certo. Eu sou o responsável desde o começo. Quando o assunto é Guns N’ Roses, eu posso não fazer tudo certo, mas eu tenho uma boa idéia sobre como levar as coisas do ponto A ao ponto B e sei o que é que temos que fazer.”
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